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EDUCAÇÃO - PARTE III

Educação, Cultura, Inteligência. Qual o significado dessas palavras quando às utilizamos para caracterizar pessoas?
O tema cultura me foi trazido ao pensamento pelo texto da Julia Rodrigues, citado pelo Alessandro Martins em Qual o significado profundo de cultura?
Estou à procura de uma nova escola para minha filha. Sinceramente, acredito ser uma tarefa a qual não havia ainda percebido a imensa responsabilidade envolvida.
Talvez fosse inconsciência minha, ou falta de experiência mesmo, mas para as primeiras séries apenas me preocupava que ela fosse corretamente alfabetizada em um ambiente saudável. Deve ter sido minha posterior experiência como docente que me ampliou a consciência sobre essa responsabilidade.
O que quero de uma escola para a minha filha?
E o que ela precisa em uma escola?
Quero para ela em uma escola um local que lhe dê condições mínimas de desenvolver suas potencialidades pessoais de inteligência e cultura para que ela se torne uma pessoa realmente EDUCADA.
Uma instituição que a conduza, não a dirija, lhe dê meios e apoio ao máximo para que ela possa utilizar o seus tipos particulares de inteligência para se apropriar de conhecimentos que lhe sejam prazerosos, mas também aqueles que ela simplesmente vai ter de aceitar como parte do que tem de aprender. Pois esse também é um dos fatores da aprendizagem: nunca poderemos ter somente aquilo de que gostamos, e saber conviver com isso faz parte de amadurecer.
Mas principalmente, um local que a estimule a cultivar (usando um termo colhido do texto citado) aquilo que ela é como ser humano, seus dons pessoais e capacidades, não importando que eles sejam mais voltados para artes, ciências, esportes, música...mas sem abandonar o todo em benefício de caminhos que levam apenas à formação de conhecimentos isolados uns dos outros, esquecidos que nosso mundo é um só.
Desenvolvemos um mundo de compartimentos de idéias, onde um ser não pode se atrever a invadir a área do outro, porque não teve chances para se cultivar em outros assuntos (não foi estimulado,ou não o quis).
Existe uma confusão de terminologias, onde, muitas pessoas consideradas cultas, são apenas extremamente inteligentes ,o que pode ajudar muito em se obter cultura mas não é a cultura ou muito instruídas em alguma ou algumas coisas ou ainda muito carregadas de informações.
Acredito que essa super-especificidade, formando pessoas instruídas muito profundamente, mas "só" naquilo (lembrar: "ninguém entende letra de médico", isso significa que saber escrever bem não é importante para eles?)e a valorização da carga de informação que se possa armazenar (e não do uso que se poderia fazer de pouca, mas boa e bem aproveitada), podem ter por efeito matar a cultura.
Assim como uma planta muito forte e bela que se desenvolve plena e satisfaz muito seu jardineiro, que talvez nem venha a perceber que essa bela flor acabou por sufocar todas as demais plantas do jardim com sua excessiva necessidade de maiores cuidados, espaços e tudo mais dentro do jardim.
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“A alegria é o fogo que mantém aquecido o nosso objetivo, e acesa a nossa inteligência”. (Helen Keller)
Demorei muito a poder aplicar o que diz essa frase, retirada de Frases e Pensamentos, e confesso que não é fácil manter essa disposição, mas é a melhor resolução que já tomei na vida, viver com alegria.
Porém, ultimamente estou percebendo que essa alegria está rendendo mais frutos que o esperado. “Aquecer o objetivo e acender a inteligência”, resultou em mim uma imensa energia de transformação e coragem, que estão me levando a fazer mudanças bastante interessantes em minha vida. E, de uma maneira cíclica, isso é divertido, produzindo mais alegria e mais energia criadora.
As mudanças não são nada de notável, mas são importantes para me estimular a crescer, em diversos sentidos, e estão me tornando uma pessoa mais feliz. Feliz apenas por existir.
Uma das iniciativas da minha “alegria”, foi a publicação desse blog. Onde faço algo de que sempre gostei, escrever, sem levar em conta se o faço bem ou não, pois, isso é o tipo de coisa que faz com que as pessoas se encolham para sempre em casulos de medo e tristeza, sem capacidade para enfrentar a intimidação que causa nosso mundo de “excelências”.
Já havia escrito antes que meu objetivo era apenas tentar me comunicar com as pessoas, expor coisas que penso sobre os mais diversos assuntos e contar histórias que considero interessantes sobre a minha vida e a de outras pessoas. E procurar ter alguma contrapartida.
Está sendo uma experiência interessante, pois aprendi muitas coisas. Coisas que nem achava que seriam necessárias, como algumas noções simplíssimas de HTML (não tinha a menor idéia do que era isso!). E estou fazendo isso com muita alegria, me divertindo mesmo.
Mas principalmente, aprendi que sou uma escritora à moda antiga, que meus contos de 5, 6, 10 páginas não se adéquam a esse tipo de sistema, onde me esforço para escrever pouco. Aprendi, com esforço, e ainda com poucos resultados, a tornar a minha escrita mais simples. Escrevo bem da maneira como falo, procurando colocar as entonações, as ênfases que a linguagem falada permite. Isso faz com que tenha uma escrita difícil de ser lida, acredito. Mas, minha justificativa, é que quero ser muito exata naquilo que estou querendo passar, tanto à pessoa com à qual falo, quanto para quem escrevo.
Sem enrolar mais, o resultado: estou escrevendo muito mais!
Mas estou escrevendo aquilo que me é natural, da maneira que me é natural. Escrevo ainda mais contos enormes, sem me preocupar em ser mais sucinta (estou dando uma amostra disso agora); voltei a escrever algo que um dia pretende ser um livro, algumas poesias...
O blog me estimulou a isso, mas infelizmente, não está sobrando muito espaço para escrever para ele. Textos que lhe sejam adequados conforme a idéia inicial e também mais simples e curtos.
Bem, não é algo para me preocupar, pois quando houver algo para ser dito aqui, certamente direi. E estarei fazendo isso com muita alegria e prazer.
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A começar pelo título desse texto, muitos fatos que pretendem ser tidos como “comunicação”, só nos levam á dúvida, ou ao mais comum e pior: às interpretações múltiplas e pessoais, quase sempre errôneas. O que geralmente pode se transformar em grandes problemas em diversos tipos de relacionamentos interpessoais, desde o amoroso até o de trabalho.
Por favor, não usem a “interpretação” para supor que estou tentando falar mal ou contra a indispensável e sublime “comunicação” ou à muito valorosa ‘interpretação pessoal”.
O a que tento me referir é sobre os problemas que podem ser ocasionados quando se tenta dizer “A” , e o ouvinte entende “B”.
E isso, quase sempre, não se deve a variados graus de surdez, ou uso de dialetos ou línguas estrangeiras ou mesmo por alguma espécie de “maldade” por parte de quem recebe a informação; não que essa última opção possa ser descartada, mas não acredito que ocorra com tanta freqüência quanto se acredita.
O que penso acontecer, é que cada pessoa é única (isso não é novidade). Seu cérebro é único, sua cultura pessoal é única, e até mesmo sua fisiologia e metabolismo são únicos. E todos esses fatores, e certamente muitos outros, atuam no momento em que o indivíduo recebe a mensagem e a processa, resultando em um “entendimento” desta que acaba sendo pessoal.
Se pudéssemos ter isso em mente, que nem sempre entendemos corretamente o que foi tentado comunicar, juntando isso à boa vontade e espírito de auto-crítica, certamente teríamos vidas sociais melhores. Melhores ambientes de trabalho, pois não ficaríamos “supondo” o que essa ou aquela pessoa disse ou fez. E melhores relacionamentos amorosos, pois sempre lembraríamos que nosso par, por ser outra pessoa, se expressa de maneira bastante diversa da nossa. Desfazer mal-entendidos seria algo mais leve e sem traumas, natural, pois se são duas pessoas, são duas falas e não uma.
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EDUCAÇÃO-PARTE II

Ansiedade!
Era isso o que estava me causando a representação teatral daquela noite.
Para fugir dessa emoção venenosa, abri uma segunda página no meu computador mental e comecei a pensar em outra coisa.
- Que iniciativa maravilhosa essa! Quem teria pensado em criar um projeto em que os alunos do ensino médio das escolas públicas seriam convidados a fazerem apresentações dos livros sugeridos da listagem do PEIES?
Pena que os maiores interessados, os alunos, pouco aproveitassem a oportunidade de entrada franca no Teatro Municipal.
Melhor pra mim, que sempre acabo convidada para esse tipo de evento e posso escolher o melhor lugar, seja para ouvir uma orquestra, assistir uma apresentação de dança, teatro, ou, como esse dia, de livre escolha, desde que representando uma obra literária.
Foram apresentadas mímicas, declamações, reinterpretações teatrais, representações teatrais e até mesmo uma montagem fotográfica em um estilo cinema-mudo, com os devidos efeitos de figurino e envelhecimento de filme.
A verdade é que lamento mesmo, pois sei que alguns desses jovens que deixaram de ir ao teatro verem seus colegas “pagarem mico”, talvez tenham perdido a única chance que terão na vida de entrarem no prédio do teatro como espectadores
Muitos destes conseguirão perceber que os colegas pagadores de mico estavam, ao menos, tentando algo melhor para si através da educação, quando o futuro decidir-se a lhes mostrar isso. Outros talvez não cheguem sequer a ter a oportunidade dessa percepção.
Mas a minha ansiedade ainda estava lá.
A atriz, amadora e entusiasmada, repetia o irritante “tlec, tlec, tlec” de discagem do telefone, e novamente a voz da secretária eletrônica da representação repetia:
- Alô, aqui é a Luciana, não posso atender no momento, após o sinal deixe seu recado.
Era mais ou menos isso.
E novamente, a coitada da mulher que falava com a secretária eletrônica da amante do marido, despejava insultos e uma lista de defeitos e maus hábitos daquele com quem era casada há vinte anos. Ela já havia feito isso umas dez vezes!
Depois de toda essa repetição, abri uma terceira página no meu computador mental (a segunda continuou a lamentar a falta de oportunidades de educação de boa parte da juventude brasileira) e comecei a imaginar como terminaria essa sucessão de xingamentos e contabilização de defeitos.
A triste mulher magoada começava a dar mostras de cansaço, e de percepção do significado de suas próprias palavras.
Terminei de compor o meu final imaginário, e fiquei esperando.
Mais um telefonema, mais um defeito exposto à amante do marido. A voz completamente vencida e desiludida e... Terminou!
Perdão ao autor Luiz Ruffato, do interessantíssimo “Eles eram muitos Cavalos”, tema da representação, mas fiquei me sentindo quase lesada.
Percebi mais tarde que, talvez como nenhuma outra pessoa na platéia, compartilhei do mesmo tipo de frustração e impotência da mulher enganada. Nenhuma de nós podia fazer NADA que alterasse nossas situações. Ela, de esposa traída, eu, de ter de aceitar que a vida é realmente uma coisa “crua”, sem romantismos ou finais semi-heróicos (como o que eu havia imaginado).
Vou ter de guardar meu final imaginário para mim mesma. Não tinha nada de especial mesmo.
Mas eu me diverti em criá-lo!
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Onde foi parar o cara? Eu juro que não o imaginei!

Cansei cara!
Se existe o tal troféu de “a maior teimosa do mundo”, que eu andei ambicionando, não quero mais ter a menor notícia de tal objeto, ao menos quando relacionado a esse assunto: O TAL CARA.
Eu hein? Andei correndo atrás de um cara, primeiro com as piores intenções possíveis (coisa que eu nunca vi um homem heterossexual reclamar), fazendo o possível para me adaptar e passar por cima de toda a minha criação conservadora e retrógrada para libertar a mulher que eu achava que eu merecia ser, para esse cara que eu achava merecer esse produto a ser desenvolvido.
E ele me deu o maior apoio, no início, foi legal, compreensivo, paciente e invasivo na medida que eu precisava. Imaginei que tinha achado um caso raro de homem contendo doses bastante boas de inteligência e sensibilidade. Não que tivesse a sensibilidade de algum artista, porque bem que precisamos do “ogro” dentro deles de vez em quando para equilibrar nossas muitas “frescuras”.
Mas com “ogro”, não quero dizer completo afastamento e perda de foco no que é ter uma mulher ao lado, e não um cavalo, um centro-avante (como se eu soubesse o que é isso), ou um concorrente nos negócios.
Ninguém é perfeito, nem ele, claro, mas se saía surpreendentemente bem para alguém que mal me conhecia e era evidentemente de uma realidade muito diferente da minha.
E o sexo.... Hummmm.... Sensasional!!!!!!
Vou ter de deixar de lado a menininha de família, que teima em morar em mim e me censurar o tempo todo, para dizer que talvez tenha sido esse o principal fator de tanta insistência.
Até mesmo quando o cara simplesmente parece ter sido abduzido por extraterrestres e trocado por um robô monossilábico e sem graça, e o que é pior, sem a menor consideração pelos sentimentos dos outros (no que estou me dando o direito de seguir o mesmo padrão aqui, depois de aprender com várias “ogruras” descabidas), eu ainda insisti um pouco, talvez guiada pelo que minha vovó chamaria de “luxúria”, mas no fundo com a boba esperança de que ele estivesse “passando por um período difícil”.
Como último recurso, desisti do sexo, e tentei reconquistar o amigo (vai que eu o tivesse ferido de alguma maneira com esse meu jeitinho sutil). Pedi desculpas por qualquer mal-entendido, e propus um recomeço na base da mais simples amizade (e juro que ia me esforçar para cumprir).
Não deu resultado. Os extraterrestres não desfizeram a troca. Então, agora tenho de dar o meu teimoso braço à torcer e aceitar a perda do que considerei uma jóia rara, mas que aparentemente, sequer existia. Já há algumas semanas não tenho notícias dele.
Desisti! Saí fora! Ainda dizem que nós mulheres somos as complicadas!
Que pena! Tomara que as garotas extraterrenas saibam tirar bom proveito da sorte que tiveram com esse ser que abduziram.
Quanto a mim, vou ter de me acostumar com a idéia de que, tava bom demais para ser verdade, ou para ter durabilidade.
Bye, Bye meu OGRO!!

P.S.
Achei que esse era o fim da história, quando escrevi isso há umas semanas atrás.
Mas, para minha surpresa, reapareceu. Deu pequenos sinais de querer alguma comunicação e pôde contar com a curiosidade feminina para ajudar nesse sentido.
Retornou de mansinho, como se nada houvesse acontecido ou tivesse sofrido uma amnésia (conta outra!). Mas era o meu OGRO novamente! Tal como antes, com as qualidades e defeitos que o fazem único e, de alguma maneira que não entendo, especial para mim.


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O trio sentado a quatro ou cinco mesas de distância da minha mesa na pizzaria, me deixava intrigada, e com a imaginação voando à solta.
Ele, jovem, bonito visivelmente tenso. Falante demais para o hábito da maioria dos homens. Tinha o braço passado sobre a que chamarei Ela 1, falando com ela o tempo todo, dessa maneira tensa,visivelmente insistente em agradar.
Ela número 1 parecia igualmente desconfortável, sem saber muito bem o que fazer com as mãos, sorrindo sem motivo olhando em torno com olhar um tanto medroso e passando a mão nos cabelos longos.
Sentada em frente a Ele, Ela 2 parecia ser a menos tensa, apenas um pouco confusa, mas os gestos eram mais lentos, não falava e nem gesticulava tanto quanto seus dois companheiros de mesa.
Minha conclusão sobre a situação poderia ser quase clara, não fosse por apenas um detalhe. Detalhe que minha amiga comentou assim que cheguei ao final da minha inconclusão sobre o assunto, e consequente extrema curiosidade.
Também a minha amiga percebera o trio que eu vinha observando, e estava lutando com as mesmas suposições e perguntas sem respostas muito coerentes.
Ocorre que Ela 1 aparentava ter cerca de 40-50 anos. Lembrando que Ela 1 era a que o jovem nervoso abraçava e procurava agradar, e que parecia também bastante tensa.
Como disse a minha amiga, e eu concordo, nada de estranho. Um jovem e sua bonita namorada mais velha saindo para jantar pela primeira vez com a mãe dele.
Qualquer que fossem as idades, a tensão podia ser facilmente justificável pelo comentado zelo materno frente às escolhas femininas de seus filhinhos homens. Assim como ocorre com pais e suas filhas.
Porém, minha amiga e eu, agora duas bisbilhoteiras declaradas, não conseguíamos situar Ela 2 em nosso roteiro feito às pressas. Ela2 era uma bela garota que aparentava igual ou menor idade que o rapaz que sentava em sua frente.
A mãe dele é que ela não era!!!!
Bem, saímos da pizzaria com essa frustração em nossa carreira de bisbilhotices, pois não conseguimos nenhuma outra evidência da relação existente entre aqueles três.
-Seria Ela 2 a namorada, e a mãe estava sendo tratada com especial carinho por ser seu aniversário, ou algo assim?
-Seria Ela n 2 a irmã do rapaz? Tão exigente a ponto de, semelhante ao que seria com uma mãe, também causar tensão?
-Seria Ela 2 a filha de Ela 1?
Sem conclusões!
Só podemos dizer que observar a vida dos outros sempre foi e sempre será um esporte de ampla preferência do ser humano. E fico imaginando em que situações já tive minha vida observada assim causando a outros o prazer de bisbilhotar.


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Desisti de viver como se a vida fosse apenas uma obrigação desagradável.
Não vejo mais em mim a procrastinação, pois se ela existe, é porque na verdade, não surgiu ainda o momento correto para realizar aquela tarefa específica.
Sei que é uma boa maneira de conseguir a justificativa perfeita, mas percebi que, se usarmos do máximo de honestidade conosco mesmos, pode dar muitos bons resultados. Inclusive na qualidade da tarefa a ser realizada, por ser feita em um momento mais apropriado, e não com o pensamento que precisamos “nos livrar” dela.
No entanto, achei magnífica e muito significativa a frase escrita pelo Alessandro, em Sobre as Vantagens de ser Mortal e a Procrastinação
“Os gestos humanos, por serem tão fugidios e irrecuperáveis na linha do tempo, são desse modo preciosos, irrecuperáveis, únicos.”

Pois, realmente acredito nesse valor. No valor de cada momento de nossa vida, e que ela deve ser bem vivida, seja para estar realizando uma tarefa de alta relevância, seja para não estar fazendo absolutamente nada.
Adotei isso para minha vida depois que fiz uma série de ajustes. Ajustes como: só tentar realizar aquilo que eu realmente me achasse capaz, e que não estivesse muito contrário às minhas tendências naturais, e para isso, diminuir o número de deveres e aumentar o número de prazeres não pagos.
Fiz descobertas importantes com isso. Descobri que a perda de recursos monetários que me permitiam o acesso a prazeres mais caros, que, porém, eu não poderia desfrutar devido às inúmeras preocupações com as mais diversas obrigações, pode ser largamente compensada pela troca das necessidades que antes me moviam, ou por uma melhor visualização daquelas realmente necessárias e prazerosas.
Afinal, as estrelas e seu lindo espetáculo, estão disponíveis gratuitamente ao público, e mais acesso tem à elas aqueles que tem tempo para observá-las e a cabeça leve de preocupações para poder erguê-la em direção ao seu brilho.
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EDUCAÇÃO-PARTE I

Convenções, regras, leis, coisas que “engessam” parecem-me serem feitas para tornar justo, regular, controlar diversos tipos de evento sociais. No entanto, acabam freqüentemente por acentuar desigualdades e causar ainda mais injustiças e favorecimentos.
Penso assim, particularmente, sobre os métodos tradicionais de avaliação escolar, e como conseqüência, os sistemas utilizados para o acesso ao ensino superior.
Pessoalmente, deveria sentir-me grata ao sistema existente, pois creio ter sido causador de boa parte do meu sucesso escolar bastante acima da média, seguido de uma ótima colocação em vestibular público aos 17 anos de idade. A universidade pública era minha única opção, pois não poderia pagar uma faculdade privada, mesmo o curso pré-vestibular, foram apenas duas disciplinas durante um único semestre.
Depois de tudo isso que parece ser somente para fazer uma vitrine à minha vaidade (não vou mentir que não é, pois quem não ficaria orgulhoso de seus acertos?), quero explicar, que acredito que o sistema tradicional beneficia pessoas com características de aprendizado semelhantes às minhas.
Boa memória, inteligência razoável (nada de especial), habilidade para moldar-se à sistemas de aprendizado que chamo de “por repetição”, e por um determinado nível de associação (não muito profundo) com uma idéia ou equação modelo, com aplicação e desenvolvimento de conceitos simples.
Excelentes condições para serem utilizadas no treinamento de alunos aptos a responder testes!
Claro, que não somente isso se “aprende”, somos seres melhores que isso, e nem acredito que o sistema educacional vise esse resultado em seus alunos. Mas é o que acaba por acontecer.
Infelizmente, quando o assunto passa a ser competição, como em uma seleção de vaga para o ingresso ao ensino superior, os fatores aprendizado e educação, passam a ser apenas itens, que talvez possam vir como conseqüência do treinamento para a formação de pessoas aptas ao bom desempenho em testes.
Isso acentua as diferenças quando favorece aqueles que podem pagar as escolas mais capacitadas a treinar melhor as habilidades necessárias para passar nos testes, e não necessariamente educar. Privilegia os que podem pagar mais tempo de treinamento pré-vestibular.
Muitos, sem dúvida, são selecionados porque sabem realmente responder às questões das provas. Mas se esses fossem a maioria, porque a preocupação em decorar “macetes” de respostas? Músicas para memorização? Técnicas de relaxamento e diversas outras que não visam o que foi aprendido, mas o que foi treinado.
Talvez pensem que estou sendo muito cruel, mas depois de ouvir de muitos alunos perguntas como: “onde vai o x, professora?” , para realizar simples operações matemáticas de regra de 3 direta, após terem sido considerados aptos a resolvê-las através de diversas avaliações anteriores realizadas por outros professores, durante muitos anos (eu era somente a professora de química, lembram?), sinto que posso externar minha preocupação antiga.
Essa preocupação, felizmente, se extende a pessoas que têm mais visibilidade em suas opiniões, e não temem defendê-las vigorosamente, como pude verificar em A fábrica de alunos da Uniban. Espero que essas opiniões possam, algum dia, fazer alguma diferença.
Mas, o que penso ser mais triste, é a exclusão das demais habilidades apresentadas pelos alunos, desse sistema de seleção. A exclusão da criatividade, da imaginação, da criticidade.
Já tive alunos que não seriam jamais aprovados em concursos vestibulares, pois não se adequavam aos padrões “normais” de aprendizado e demonstração de aprendizado, mas que, estou certa, entenderam muito mais o que tentei lhes passar para que apreendessem, do que muitos dos que obtiveram bons resultados nas avaliações padrão (pois somos obrigados a avaliar e prestar conta do método, e isso não é nada fácil).
Isso sim é realmente discriminante, pois, mesmo entre aqueles que têm assegurada suas vagas, através dos recursos econômicos que possuam, têm de suprimir uma parte bastante grande daquilo que também é considerado “inteligência” (ver a Teoria das Inteligências Múltiplas), para cumprir o convencionalismo da seleção por critérios bastante estreitos de capacidade intelectual.

"As inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo".
Rubens Alves, em Cenas da Vida.


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