ARTEMIS

EDUCAÇÃO-PARTE II

Ansiedade!
Era isso o que estava me causando a representação teatral daquela noite.
Para fugir dessa emoção venenosa, abri uma segunda página no meu computador mental e comecei a pensar em outra coisa.
- Que iniciativa maravilhosa essa! Quem teria pensado em criar um projeto em que os alunos do ensino médio das escolas públicas seriam convidados a fazerem apresentações dos livros sugeridos da listagem do PEIES?
Pena que os maiores interessados, os alunos, pouco aproveitassem a oportunidade de entrada franca no Teatro Municipal.
Melhor pra mim, que sempre acabo convidada para esse tipo de evento e posso escolher o melhor lugar, seja para ouvir uma orquestra, assistir uma apresentação de dança, teatro, ou, como esse dia, de livre escolha, desde que representando uma obra literária.
Foram apresentadas mímicas, declamações, reinterpretações teatrais, representações teatrais e até mesmo uma montagem fotográfica em um estilo cinema-mudo, com os devidos efeitos de figurino e envelhecimento de filme.
A verdade é que lamento mesmo, pois sei que alguns desses jovens que deixaram de ir ao teatro verem seus colegas “pagarem mico”, talvez tenham perdido a única chance que terão na vida de entrarem no prédio do teatro como espectadores
Muitos destes conseguirão perceber que os colegas pagadores de mico estavam, ao menos, tentando algo melhor para si através da educação, quando o futuro decidir-se a lhes mostrar isso. Outros talvez não cheguem sequer a ter a oportunidade dessa percepção.
Mas a minha ansiedade ainda estava lá.
A atriz, amadora e entusiasmada, repetia o irritante “tlec, tlec, tlec” de discagem do telefone, e novamente a voz da secretária eletrônica da representação repetia:
- Alô, aqui é a Luciana, não posso atender no momento, após o sinal deixe seu recado.
Era mais ou menos isso.
E novamente, a coitada da mulher que falava com a secretária eletrônica da amante do marido, despejava insultos e uma lista de defeitos e maus hábitos daquele com quem era casada há vinte anos. Ela já havia feito isso umas dez vezes!
Depois de toda essa repetição, abri uma terceira página no meu computador mental (a segunda continuou a lamentar a falta de oportunidades de educação de boa parte da juventude brasileira) e comecei a imaginar como terminaria essa sucessão de xingamentos e contabilização de defeitos.
A triste mulher magoada começava a dar mostras de cansaço, e de percepção do significado de suas próprias palavras.
Terminei de compor o meu final imaginário, e fiquei esperando.
Mais um telefonema, mais um defeito exposto à amante do marido. A voz completamente vencida e desiludida e... Terminou!
Perdão ao autor Luiz Ruffato, do interessantíssimo “Eles eram muitos Cavalos”, tema da representação, mas fiquei me sentindo quase lesada.
Percebi mais tarde que, talvez como nenhuma outra pessoa na platéia, compartilhei do mesmo tipo de frustração e impotência da mulher enganada. Nenhuma de nós podia fazer NADA que alterasse nossas situações. Ela, de esposa traída, eu, de ter de aceitar que a vida é realmente uma coisa “crua”, sem romantismos ou finais semi-heróicos (como o que eu havia imaginado).
Vou ter de guardar meu final imaginário para mim mesma. Não tinha nada de especial mesmo.
Mas eu me diverti em criá-lo!
0 Responses

Postar um comentário

Pesquisa personalizada