ARTEMIS

EDUCAÇÃO-PARTE I

Convenções, regras, leis, coisas que “engessam” parecem-me serem feitas para tornar justo, regular, controlar diversos tipos de evento sociais. No entanto, acabam freqüentemente por acentuar desigualdades e causar ainda mais injustiças e favorecimentos.
Penso assim, particularmente, sobre os métodos tradicionais de avaliação escolar, e como conseqüência, os sistemas utilizados para o acesso ao ensino superior.
Pessoalmente, deveria sentir-me grata ao sistema existente, pois creio ter sido causador de boa parte do meu sucesso escolar bastante acima da média, seguido de uma ótima colocação em vestibular público aos 17 anos de idade. A universidade pública era minha única opção, pois não poderia pagar uma faculdade privada, mesmo o curso pré-vestibular, foram apenas duas disciplinas durante um único semestre.
Depois de tudo isso que parece ser somente para fazer uma vitrine à minha vaidade (não vou mentir que não é, pois quem não ficaria orgulhoso de seus acertos?), quero explicar, que acredito que o sistema tradicional beneficia pessoas com características de aprendizado semelhantes às minhas.
Boa memória, inteligência razoável (nada de especial), habilidade para moldar-se à sistemas de aprendizado que chamo de “por repetição”, e por um determinado nível de associação (não muito profundo) com uma idéia ou equação modelo, com aplicação e desenvolvimento de conceitos simples.
Excelentes condições para serem utilizadas no treinamento de alunos aptos a responder testes!
Claro, que não somente isso se “aprende”, somos seres melhores que isso, e nem acredito que o sistema educacional vise esse resultado em seus alunos. Mas é o que acaba por acontecer.
Infelizmente, quando o assunto passa a ser competição, como em uma seleção de vaga para o ingresso ao ensino superior, os fatores aprendizado e educação, passam a ser apenas itens, que talvez possam vir como conseqüência do treinamento para a formação de pessoas aptas ao bom desempenho em testes.
Isso acentua as diferenças quando favorece aqueles que podem pagar as escolas mais capacitadas a treinar melhor as habilidades necessárias para passar nos testes, e não necessariamente educar. Privilegia os que podem pagar mais tempo de treinamento pré-vestibular.
Muitos, sem dúvida, são selecionados porque sabem realmente responder às questões das provas. Mas se esses fossem a maioria, porque a preocupação em decorar “macetes” de respostas? Músicas para memorização? Técnicas de relaxamento e diversas outras que não visam o que foi aprendido, mas o que foi treinado.
Talvez pensem que estou sendo muito cruel, mas depois de ouvir de muitos alunos perguntas como: “onde vai o x, professora?” , para realizar simples operações matemáticas de regra de 3 direta, após terem sido considerados aptos a resolvê-las através de diversas avaliações anteriores realizadas por outros professores, durante muitos anos (eu era somente a professora de química, lembram?), sinto que posso externar minha preocupação antiga.
Essa preocupação, felizmente, se extende a pessoas que têm mais visibilidade em suas opiniões, e não temem defendê-las vigorosamente, como pude verificar em A fábrica de alunos da Uniban. Espero que essas opiniões possam, algum dia, fazer alguma diferença.
Mas, o que penso ser mais triste, é a exclusão das demais habilidades apresentadas pelos alunos, desse sistema de seleção. A exclusão da criatividade, da imaginação, da criticidade.
Já tive alunos que não seriam jamais aprovados em concursos vestibulares, pois não se adequavam aos padrões “normais” de aprendizado e demonstração de aprendizado, mas que, estou certa, entenderam muito mais o que tentei lhes passar para que apreendessem, do que muitos dos que obtiveram bons resultados nas avaliações padrão (pois somos obrigados a avaliar e prestar conta do método, e isso não é nada fácil).
Isso sim é realmente discriminante, pois, mesmo entre aqueles que têm assegurada suas vagas, através dos recursos econômicos que possuam, têm de suprimir uma parte bastante grande daquilo que também é considerado “inteligência” (ver a Teoria das Inteligências Múltiplas), para cumprir o convencionalismo da seleção por critérios bastante estreitos de capacidade intelectual.

"As inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo".
Rubens Alves, em Cenas da Vida.


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